A Guerra Fria constituiu, em grosso modo, uma forma de mensurar o poder de dois ideais beligerantes que se disputavam pela supremacia no palco mundial. Como sabemos, acabou culminando no abrupto colapso do colosso comunista no início dos anos 90. A centralização, nomeadamente de empresas e propriedades, tornou-se numa máquina burocrática cara, ineficaz e corrupta que acabou por sufocar a economia, levando à revolta popular. Este grande evento marcou o tom do desenvolvimento económico mundial nas décadas seguintes.
Hoje, a hegemonia do sistema capitalista parece praticamente inquestionável. A China, num esforço para evitar o mesmo destino que a URSS, iniciou uma reforma económica em 1978, quando começou a descolectivizar a agricultura e abrir o país a investimentos estrangeiros. Com as suas zonas económicas especiais, a China hoje exibe um tipo de economia de mercado que passou a ser conhecida como “socialismo com características chinesas”. No entanto, mesmo tendo aparentemente alcançado um poder estratégico significativo, a China começa agora a pagar o custo do seu progresso económico. Os problemas inerentes ao progresso desregulado são evidenciados pela situação ambiental que o país enfrenta actualmente dos quais a poluição do ar, da água e solo, destruição de habitats e desertificação são apenas alguns. O New York Times reportou que o país queima 47% do carvão do mundo. A poluição do ar em Pequim tornou-se tão impenetrável que a estação de medição da qualidade do ar da embaixada dos EUA considera-a “fora de escala”. Mais da metade da água de superfície da China está tão poluída que não pode ser tratada para a tornar novamente potável. Apesar dos recentes avanços no que diz respeito ao reflorestamento e restauração de espaços verdes, o deserto continua a expandir todos os anos em cerca de 2.460 km2, de acordo com o World Wildlife Fund. A perda resultante de terras aráveis criou uma geração de “eco-migrantes”, relata o Guardian, que são forçados a deixar as suas terras porque o seu estilo de vida agrícola tradicional já não é uma opção. Esta situação traduz-se, entre outras coisas, em níveis crescentes de importação de bens essenciais para atender às necessidades da população. Estas são as consequências indesejadas (e muitas vezes não reveladas) de um sistema em que o lucro é a prioridade das empresas e governos.
Enquanto no comunismo temos centralização económica através de indústrias estatais, no capitalismo temos o poder centralizado através de monopólios. É ingénuo pensar que o capitalismo neoliberal fornece uma solução democrática para a estrutura de mercado mundial. O capitalismo promove a anarquia da produção, onde a exploração de recursos e desenvolvimento tecnologias não está em congruência com as necessidades das pessoas. Recentemente, foi relatado que em Cristobal de las Casas, uma cidade no México, a escassez de água causada pelo acordo que a Coca Cola fez com o governo mexicano, visando captar mais de 1.100.000 litros de água por dia, força as pessoas a beber Coca Cola como alternativa à água. A população até chega a usar Coca Cola como moeda de troca e oferenda religiosa. Isso causou um aumento nas taxas de obesidade, desnutrição, hipertensão e diabetes. Esta situação até pode causar choque, mas está longe de ser um incidente isolado. Casos em que empresas multinacionais causam danos às pessoas e ao meio ambiente são comuns por todo o planeta.
“O capitalismo falhou” é uma frase frequentemente pronunciada nos dias de hoje. Activistas, movimentos populares, e intelectuais declaram como os fracassos do capitalismo são óbvios e flagrantes. Por outro lado, os pensadores mais conservadores lembram-nos dos fracassos da experiência comunista no leste, na tentativa de concluir que o capitalismo é o único sistema viável de administrar o sistema económico. PROUT oferece uma nova perspectiva. Considera que, a menos que tenhamos uma economia baseada na produção local, atendendo de forma sustentável às necessidades das pessoas, nunca seremos capazes de lutar contra as catástrofes ambientais e sociais que se avizinham.
PROUT é essencialmente uma economia de mercado. Acredita que a liberdade de iniciativa é uma das principais forças motrizes de um mercado dinâmico, o que contribui para uma abundância de produtos variados e de alta qualidade. No entanto, reconhecemos os perigos eminentes de um mercado impulsionado pelo interesse próprio e pela ganância. Por esse motivo, num sistema proutista, há um forte papel dado à regulamentação. Entendemos que cada comunidade conhece as suas necessidades, potenciais e fraquezas melhor do que um governo central. Por esse motivo, Prout promove a democracia económica: um sistema económico descentralizado, em que os meios de produção são devolvidos à população por meio da instauração de cooperativas, de propriedade dos trabalhadores, que forneceriam os meios para definir o plano para o desenvolvimento da região. A democracia económica é caracterizada pela ênfase na descentralização da economia, ao mesmo tempo em que fornece um forte elemento regulatório em todas as áreas em que há potencial de abuso (como o meio ambiente ou a segurança do produto), proporcionando, em última análise, o bem-estar da população. Numa democracia económica, uma situação como a de Cristobal de Las Casas não poderia acontecer.
De acordo com o PROUT, os recursos devem circular primeiro e principalmente dentro da comunidade local. Portanto, seria ilegal para empresas estrangeiras estabelecer uma base e explorar os recursos de uma região, transferindo os lucros obtidos para investidores de todo o mundo. Neste caso, a água na cidade mexicana deve ser usado para o desenvolvimento da região local. Aproveitando a energia cinética produzida pelas correntes de água dos rios, energia barata e limpa pode ser gerada. A abundância de água também poderia ser utilizada para modernizar a produção de têxteis que existe na região há séculos, elevando o padrão de vida de toda a população.
Miguel Pacheco
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